História da Cidade


O município de Martinho Campos integra a Microrregião de Bom Despacho e a Macrorregião do Centro-Oeste de Minas. Com área total de 1.060 km2, o município conta com população total de 11.793 habitantes, segundo dados do IBGE em 2005.

Martinho Campos tem como municípios limítrofes Pompéu, Abaeté, Quartel Geral, Dores do Indaiá, Bom Despacho, Leandro Ferreira e Pitangui. O município localiza-se a 193 quilômetros da capital mineira, Belo Horizonte, e suas principais rodovias de acesso são a BR-262 e BR-352.

O distrito de Abadia de Pitangui foi criado pela Lei Provincial nº 911, de 8 de junho de 1858 e confirmado pela Lei Estadual nº 2, de 14 de setembro de 1891. Em 1938 foi elevado à categoria de Município pelo Decreto-Lei nº 148, de 17 de dezembro, firmado pela Lei Orgânica Nacional nº 311, de 2 de março de 1938.

O relevo do município é movimentado, abrangendo 80% de sua topografia entre o ondulado (60%) e montanhoso (20%). O restante (20%) é constituído por áreas planas, normalmente associadas às planícies aluviais dos corpos d’água. O terreno possui reservas minerais de ardósia. O ponto de maior altitude do município localiza-se na Cabeceira do Córrego da Barra, a 792 metros e o de menor na Foz do rio Pará, a 674 metros.

O clima predominante é o tropical, com a ocorrência de estações do ano bem definidas, de verões quentes e úmidos e invernos frios e secos. A temperatura média anual é de 22,1º C, com média mínima de 16,4º C e média máxima de 29,2º C. O nível médio pluviométrico é de 1.230,3 mm. por ano.

A vegetação da região é composta pelo cerrado e por mata atlântica localizada às margens dos rios. Há a ocorrência de grande degradação antrópica do cerrado e das matas. A flora é dos cerrados e campos do oeste montanhoso, já com áreas reflorestadas de eucalipto, além de matas típicas das montanhas, onde predominam muitos ipês, paus-de-óleo, angicos e variedades de acácias e quaresmeiras, entre outras espécies. A fauna tem exemplares de animais de médio e pequeno porte, composta de veados, lobos-guará, raposas, cotias, tamanduás, tatus, perdizes, codornas, jacus e várias espécies de pássaros.

Martinho Campos localiza-se na bacia hidrográfica do Rio São Francisco, e possui como principais cursos d’água o Rio do Picão, o Rio Pará, o Rio São Francisco e seus afluentes. A COPASA é responsável pela administração do sistema de abastecimento de água e pelo tratamento do esgoto.

A população residente compunha-se, em 2000, por 11.722 habitantes no total, com 2.508 habitantes distribuídos nas zonas rurais e 9.214 na zona urbana. Segundo dados do IBGE, a população com idade igual ou superior a 10 anos é composta por 4.709 mulheres e 4.881 homens, dispostos em 3.359 domicílios.

A rede de educação conta com três escolas estaduais, quatro escolas municipais. O sistema de saúde do município conta hoje com seis estabelecimentos de atendimento, sendo quatro públicos e dois privados, dos quais um deles oferece internação. O Sistema Único de Saúde (SUS) possui 31 leitos disponíveis para a população. Martinho Campos conta também com 22 postos de trabalho de médicos, quatro de enfermeiros, quatro odontólogos e 16 de auxiliar e técnico de enfermagem.

O município vive tradicionalmente da agropecuária e da agroindústria, com destaque para a produção de feijão, milho, soja e mandioca. Produz também cana-de-açúcar, além de hortifrutigranjeiros, conta ainda com a produção das suas famosas cachaças de melado, cuja qualidade vem conquistando a preferência dos paladares mais exigentes. Neste seguimento, destacam-se, as cachaças das marcas, Farrista, Ligurita e Cristalina do Picão. O rebanho bovino local é o terceiro da microrregião, preponderantemente destinado ao corte. Na indústria, em fase de expansão, existem fábricas de tijolos, telhas e móveis.

O setor terciário também tem se desenvolvido amplamente. Como membro do Circuito Turístico do Lago de Três Marias, o município de Martinho Campos possui um calendário de eventos de grande destaque regional, como a Festa do Asilo, o Forró na Praça, o Churrascão do Curral. O carnaval é muito animado, com blocos, shows e trio elétrico que animam os foliões.

Na área da comunicação, Martinho Campos conta com as emissoras de rádio Criativa FM e Tropical FM e também com o Portal www.amomartinhocampos.com.br.

Aspectos históricos

Por volta do ano de 1710, os bandeirantes paulistas chegaram à região de Pitangui, descobrindo importantes jazidas de ouro. A abundância aurífera mostrou-se tamanha que o povoado tornou-se uma das mais famosas vilas do ouro de Minas Gerais, gerando amplos lucros para a Metrópole Portuguesa.

Com a decadência da atividade mineratória no final do século XVIII, a população mineira voltou suas atividades para a agropecuária. As terras férteis do leste e do oeste da Província receberam um grande contingente populacional, que se fixou às margens dos rios, Doce, Pará e São Francisco, compondo importantes fazendas.

O pernambucano Maximiano Alves de Araújo fundou o primeiro latifúndio da região onde se localiza a atual cidade de Martinho Campos, nomeada Fazenda do Junco. Mais tarde, em 1808, o português Jerônimo Vieira fundou a Fazenda da Barra, trazendo consigo sua família e seus escravos, e montou um engenho de cana-de-açúcar.

Os fazendeiros construíram por volta de 1820 uma pequena capela, visando à assistência religiosa das próprias famílias. A construção do templo consagrado a Nossa Senhora da Abadia se deu em um ponto eqüidistante entre as duas fazendas. Nos arredores da capela primitiva formou-se um pequeno povoado, onde anteriormente somente os índios kaxixós habitavam. Segundo o historiador e cônego Trindade, a paróquia de nossa Senhora da Abadia foi criada em 1822. Em 1859 foram construídas por Maximiano e pelo restante da população local as duas torres da igreja. Seu primeiro vigário foi o padre Elias José de Barros, nomeado em 1870.

Após a elevação da vila a distrito em 1858, Abadia do Pitangui se destacou, sobretudo, na política da Província de Minas, através da atuação de seu cidadão Martinho Campos, que exerceu grande papel na vida municipal e provincial, tornando-se líder de seu partido. Fez parte do Conselho de Ministros do período imperial em 1886 e se dedicou à defesa do povo, postando-se, muitas vezes, contra os ideais de seu próprio partido.

Devido às intervenções políticas do Sr. Martinho Campos perante o próprio imperador Dom Pedro II e ao aumento populacional do distrito, houve uma considerável transformação da vida da comunidade local. A capela de Nossa Senhora da Abadia foi reconstruída no final do século XIX, tendo suas instalações aumentadas e fortalecidas por paredes de alvenaria, tornando-se a atual Igreja Matriz. Em seu entorno a população se firmou, devido ao fato da Praça da Matriz ter se tornado um significativo ponto de encontro de comerciantes e tropeiros procedentes de Formiga, Dores do Indaiá e Abaeté, que ofereciam diversos artigos para a comunidade local, como toucinho, tecidos, calçados e outros artigos de subsistência e de luxo. O desenvolvimento do povoado se deu de forma rápida, conseqüência da construção da estrada de ferro que servia as localidades próximas.

A ferrovia que passava pela região também influenciou a evolução social, econômica e cultural do distrito. A urbanização do centro populacional tornou-se necessária, devido às orientações das cidades próximas à comunidade local.

Em 1938, com o grande desenvolvimento de Abadia do Pitangui, o distrito foi elevado a município, com a denominação de Martinho Campos, em homenagem ao grande estadista nascido em suas terras. O nome de Martinho Campos foi sugerido pelo então governador de Minas Gerais, Dr. Benedito Valadares, devido à importância do estadista para o distrito no século anterior.

A partir da década de 50, houve a introdução de novas indústrias, especialmente as canavieiras, além da implantação de empresas de prestação de serviços e de diversas casas comerciais. Mas a principal atividade econômica do município permaneceu voltada à agropecuária.

Somente na década de 1980, houve o desenvolvimento do turismo no município como atividade econômica, atraindo a atenção de diversas pessoas para a participação de eventos festivos, realizados regularmente. Até os dias atuais, o setor terciário vem se destacado como alternativa econômica, gerando melhorias nas condições de vida de seus habitantes.

Na localidade Capão do Zezinho, em Martinho Campos, está localizada uma comunidade de índios kaxixós, às margens do Rio Pará e próximo à confluência com o Rio São Francisco. Primeiros habitantes da região, os índios kaxixós sobreviveram à colonização dos brancos durante os séculos XVIII e XIX, apesar de somarem apenas 104 indivíduos nos dias atuais.

Durante dezessete anos os kaxixós lutaram por seu reconhecimento. O Ministério Público federalizou um laudo antropológico pericial que reconhecia a nação kaxixó de Martinho Campos como etnia indígena.

Os kaxixós passaram por um processo de aculturação parcial, tendo perdido muito de suas raízes pelo acentuado contato com os brancos. Suas casas atuais são construídas em alvenaria, com instalações sanitárias semelhantes às demais casas do município e com antenas parabólicas. No entanto, algumas flechas e vasilhas de barro também podem ser encontradas em suas residências, além da preservação de alguns de seus costumes, como a arte de produzir artigos artesanais e de pescar, ou mesmo com a realização do ritual do jacaré, que consiste nas orações realizadas por eles no mês de maio perante o cruzeiro.

O cacique Djalma Vicente de Oliveira é considerado o pai da comunidade kaxixó. Mora sozinho em uma casa de barro, com telhas curvas, considerado o marco dos kaxixós na região. Respeitado na região, é sempre visitado por órgãos governamentais ou não-governamentais para prestar entrevistas.

Os índios kaxixós têm à disposição uma escola e um posto de saúde, mantidos pela Prefeitura e pela Fundação Nacional de Saúde – FUNASA, o que contribui para a preservação da nação indígena e, conseqüentemente, de sua memória.

A natureza exuberante, repleta de orquídeas, bromélias, ervas medicinais e cursos d’água tem se tornado ponto de encontro de ecoturistas, que anseiam pela tranqüilidade ou procuram um espaço para a prática de esportes de aventura, tais como rappel, trekking, tirolesa, mountain bike, motocross, off road e passeios ecológicos. As alvas praias do Rio Pará, a Lagoa dos Buritis ou o encontro entre os rios São Francisco e Pará também se apresentam como boas referências para os turistas.

A Gruta da Lapa também se apresenta como uma das paisagens mais recomendáveis para a visitação em Martinho Campos. A Gruta possui aproximadamente 30 metros de profundidade e afirma-se que os estalactites e os estalagmites obstruíram muitas ramificações, algumas das quais atingiam quilômetros de extensão. Rica em lendas e mistérios, a Gruta da Lapa guarda a história de que seu descobridor encontrou ali uma imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e a levou para casa. No dia seguinte, verificou que a santa havia desaparecido, permanecendo em seu lugar apenas uma acumulação de gluco. A imagem havia voltado ao seu lugar de origem.

Como quase todas as cidades mais antigas de Minas Gerais, Martinho Campos cultiva as suas tradições folclóricas e suas festividades religiosas, entre as quais se destacam as Folias de Reis, a Festa da padroeira da cidade, Nossa Senhora da Abadia, a Festa do Divino, as Festas Juninas, a Festa de São Vicente de Paula e as comemorações da Semana Santa.

Muitas lendas pitorescas também resistem ao tempo em Martinho Campos, chegando até os dias atuais para povoar a imaginação de seus habitantes. Dentre as personalidades mitológicas se destacam a Mãe D’água, o Caboclo D’água, o Lobisomem, a Mula-Sem-Cabeça e o Padre Pinheiro. A lenda do Caboclo D’água tornou-se, inclusive, uma popularidade ao longo do Rio São Francisco.

Referências bibliográficas
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